Numa das palestras que dei há muito tempo, falei sobre como o livro de Cantares nos ensina, na contramão do mundo individualista, acerca de quão gentis devemos ser com o ser amado.
Cantares é uma leitura deliciosa, em erudita linguagem poética, sobre uma série de carinhos e carícias entre um casal enamorado que busca o amor erótico nos braços um do outro; o texto nos absorve dentre outras coisas, pela rica descrição de detalhes.
Infelizmente, já vi muitos casais se separarem porque as gentilezas, os gestos de carinho, a atenção e o tempo a sós descritos em Cantares como de maior importância, já não faziam parte de suas vidas íntimas.
No momento histórico em que nos encontramos, de sensualidade banalizada e vazia, de relações fast-food e de prazeres egoístas, a proposta de felicidade conjugal descrita em Cantares assusta!
Lá encontramos dois apaixonados esquecendo-se de si mesmos e de seu prazer, enumerando maneiras de apreciar o corpo do outro, desejando-o por completo, de modo que a satisfação do ser amado torna-se o clímax do seu próprio êxito particular.
É a troca de gentilezas que proporciona o prazer de encantar, degustar e satisfazer o ser amado.
O mais fantástico e ainda não sabido hoje em dia, é que colocar o ser amado e suas necessidades emocionais e sexuais em primeiro lugar, não se resume ao ato sexual em si, não começa nele, nem tem nele sua finalidade, ele é apenas a consequência naturalmente saudável entre duas pessoas que se amam, se desejam, se buscam, se perdoam, se admiram, se olham e se acariciam demoradamente, sem tabus ou preconceitos, totalmente livres de quaisquer tipos de ansiedades.
Que possamos entender que gentilezas assim são parte inexoráveis de todas as relações que se pretendam conjugais.
Luciana Rodrigues
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